quarta-feira, 1 de junho de 2011

Capítulo O1 — Suco de Cenoura — Parte O1

     É simplesmente difícil quando aquela pessoa que uma vez disse que iria cuidar de você para sempre, dá a infeliz notícia de que mentiu. Assim geralmente que as coisas começam a dar errado nas nossas vidas, pois tudo começa a sair do controle de repente e não conseguimos manter tudo em ordem. E então o inferno chega, e o que nos resta fazer se não ajoelhar e rezar? Bem, a resposta para essa pergunta na verdade é bem simples. Suicídio. Não que eu realmente pense em fazer isso, mas é bom me lembrar de vez em quando que existe uma opção. E que essa opção está bem ao meu alcance, em todos os segundos do meu dia-a-dia. 
     Quanto aos outros? Bem, acredito que eu acabaria morrendo algum dia de qualquer forma. Eles irão superar, caso aconteça. Meus pais provavelmente não entenderão e rapidamente dois psicólogos serão precisos para lhes escutar chorar e perguntar onde erraram. Mas os psicólogos não vão poder responder, porque eles não viram esses dois seres me criarem. O que torna tudo mais difícil, pois, independente de que meus pais os contem tudo, isso não será realmente tudo. Será uma parte. Nesses momentos me arrependo de não ser totalmente aberta com eles, de não dizer tudo o que acontece na minha vida. Sei que já passaram por isso, mas mesmo assim, hoje os tempos são diferentes. Humilhar alguém é tão rápido quanto fazer um novo post no blog. Um segundo e meio e a palavra vadia está digitada. A não ser é claro, que você seja um retardado ou a pessoa mais rápida do mundo. Mas isso não faz diferença, de qualquer forma, porque não foi você quem escreveu "A Alice é uma vadia" no blog da sala. O legal é que foi escrito por um computador da escola, no horário do intervalo. Todos são considerados inocentes até que se prove o contrário, mas até lá, todos perderam 4,0 pontos do trabalho que era o blog, menos eu, porque eu não fui quem fiz isso, obviamente. Então todos foram mandados pelos pais para a puta que pariu. Porém não ligo pra isso. Não ligo pra mais nada.
     — Sabe Alice, você é mesmo uma vadia. Nem para defender a gente, falar que, sei lá, era injusto todos perderem os pontos. — sussurrou assim a principal suspeita, aquela garota da sala de aula que não fala com mais ninguém senão com você, a não ser talvez alguns meninos bonitos da escola.
     — Rebecca, eu simplesmente estou pouco me lixando. E você sempre tira 10 em tudo mesmo, seu boletim só tem A. Pela primeira vez vou tirar a maior nota da turma, e bem, isso é um marco histórico.
     — Isso é puta sacanagem. Você ganhou a maior nota porque todo mundo tem um limite menor que o seu para a nota máxima. — eu sorri.
     — E isso é uma pena eim? — ela virou o rosto e prestou atenção no professor de biologia, emburrada.
     Mas sabe, isso realmente não me interessa. Quero dizer, eu liguei o foda-se para o mundo à muito tempo, acho que aqueles remédios têm esse efeito em mim. Não me incomodar com nada, apenas viver independente de saber que tem algo errado. E tem muitas coisas erradas.
     — Vai se sentar com a gente no intervalo? — meus olhos se viraram devagar para o Lucca, desinteressadamente, claro. Porque desse pequeno detalhe? Simples, ele é o cara mais gostoso e mais fofo da escola. Um cabelinho com franja grande sobre os olhos e uns bíceps e tríceps e quadril e... Bem, não preciso comentar que ele também tem um volume bem... am... chamativo. E fora do comum. E anormal. SOBRENATURAL OLHA PRA AQUILO PELO AMOR DE DEUS! Parece uma cobra que está vindo na nossa direção! Se acalma Alice, ele apenas está falando com você porque você é a única pessoa da escola (ou mundo, você escolhe) que não demonstra estar afim dele. E claro que no final eu fico com ele.
     — Claro... Contanto que o Richard não faça aquilo com os palitos de novo... — ele sorriu, os olhos azuis brilhando atrás dos fios loiros perfeitamente desfiados.
     — Eu faço ele se comportar. — virei os olhos de volta para o professor, que ainda explicava sobre mitocordas ou algo assim. O sussurro do Lucca veio bem baixinho, porém tenho certeza de que um monte de gente ouviu. — O que vai fazer hoje a noite? — gelei, porém calma, calma, respira, isso, um, dois. Epa, ele está esperando a resposta. Fecha os olhos calmamente, abre devagar, isso, tudo bem, agora olha ele com malícia e um sorrisinho. Epa, sorri que nem retardada? Não sei. Nossa, minha bochecha tá ardendo. Calma, calma.
     — Vou para o cinema... — minha voz saiu normal, amém. Voltei calmamente a atenção para o professor.
     — E quem vai com você? 
     — Ninguém. — respondi bem baixinho. — Só gosto de ir sozinha ou para pegar meninos no escuro. — quatro pessoas me encararam, os olhos bem arregalados. Platéia para o meu momento de brilhar, ha.
     — Posso ir então? — UMAS DEZ PESSOAS SE VIRARAM. O PROFESSOR TÁ ME ENCARANDO MAS E DAÍ? SUSPENSÃO VALE AQUELA BOCA.
     — Posso te responder depois? — perguntei, sabendo que tinha ficado bem vermelha e que ele notou. Porém tinha pouco tempo pra ocultar a vergonha, já que na minha cabeça eu havia pulado em cima da mesa e fazia a dancinha do vou-pegar-ele. 
     — Senhorita Piacci, tudo bem? — sorri para o professor, sem responder. O homem continuou me encarando. — Posso continuar a dar a aula?
     — Claro, meu pai pagou para isso não foi? — ele bufou, todos os alunos faziam as mesmas tiradas para aquelas perguntas. Um colégio com mensalidade de $32OO,OO tinha seus privilégios. Ele se virou e então continuou a falar das cartas. Cordas? Deu branco.

3 comentários:

  1. Agora vo fikar aqui morrendo pra saber o resto. Quero a bruxa logo ok?

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  2. Quero mais, quero mais mais mais mais. Está muito bom, adorei o jeito como a história faz você querer saber mais.

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  3. Odeio aula de Biologia, mas temos que aprender sobre as mitocordas, né? Mitocôndrias? HOHIOHI' -n.
    Porra, mano eu sou um preguiçoso do caralho pra ficar lendo esses baguios alheios, mas fiquei curioso pra saber o que é Alice, é. G.G Muito boa a história.
    Ela vai pegar ele, né? IHOIHOHIOHIHO' -n.

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