terça-feira, 31 de maio de 2011

14 de Setembro. 10h45min

     Talvez realmente tenha sido eu quem tenha feito tudo aquilo. Não conscientemente, digo. Quem sabe uma força das trevas não tenha se apoderado de mim e então utilizado da pior magia negra para que tudo aquilo acontecesse?
     A psicóloga da escola ainda me analisava calmamente, anotando de vez em quando as expressões que apareciam no meu rosto, já que esse era todo o material que conseguia a dar. Desde que ela cogitara a idéia de que eu poderia ser bipolar, um monte de idéias confusas começaram a aparecer. E desde então calei a boca, e fiquei ali refletindo. 
     — E então, Alice? — pisquei os olhos e a fitei. — É uma possibilidade?
     — Sim... — respondi bem baixinho, porém ela com certeza havia ouvido.
     — Bem, infelizmente teremos que fazer alguns exames para comprovar o diagnóstico. Como a maioria dos... incidentes... ocorreram após o sol se por, acredito que deveríamos gravá-la dormindo ou algo assim. — Fiz uma careta.
     — E a minha privacidade? — a mulher sorriu, abaixando a prancheta mas mesmo assim não consegui ler nada que ela havia escrito.
     — Não se preocupe com isso. — bufei, cruzando os braços e fechando as pernas. Ela voltou a escrever calmamente, sem voltar com os olhos para a minha direção.
     — Posso ir agora? — A psicóloga sorriu e levantou os olhos. 
     — Sim, pode.

     Para começar, aquilo parecia ser tudo muito sem sentido. Pra que eu mataria meu gato? Será que subconscientemente eu o odiava e não havia percebido isso ainda? Ou talvez ele realmente tenha morrido de morte natural. Talvez. Continuei a caminhar devagar, na direção do meu armário e então o abrindo quando chego. O corredor inteiro estava vazio, o que era uma coisa boa, já que ainda faltavam alguns minutos para o sinal do intervalo bater e as pessoas saíssem para a cantina. Seria a primeira da fila pela primeira vez na minha vida! Isso era tipo um marco histórico para mim ou algo do tipo. Poderia escolher a mesa que quisesse para sentar, inclusive a mesa dos populares. E acho que é isso mesmo o que vou fazer.
     Fechei o armário com um baque, após guardas os livros e cadernos que não iria mais utilizar e fui correndo até a lanchonete, tendo a felicidade de constatar que ela realmente estava vazia. Fui até a fila e então a mulher da cantina me encarou com aquele olhar de o-que-você-está-fazendo-aqui.
     — Estava na psicóloga. — a mulher tentou encontrar alguma prova de que estava mentindo, mas não conseguiu. Peguei um sanduiche de peito de peru, um suco de laranja que ainda estava gelado e... Meus olhos se arregalaram. Pizza! Pizza! PIZZA! Corri até o local, me esquecendo de que estava sozinha e pedi seis pedaços bem gordos, que a mulher loira com a toquinha bem estranha graças à uma estranha força paranormal fez. Então veio a melhor parte, aham. Paguei as coisas e então fui até a mesa número sete, também chamada de a-mesa-dos-populares. Quando me sentei praticamente senti um poder tomando conta de mim, e foi aí que o sinal tocou. Demoraram quinze segundos até que as portas se abrissem e um monte de cara altos que saíram da educação física entrassem correndo. Beatriz Karph veio logo atrás, despreocupada, até que seus olhos me encontraram por acaso. E ela ficou paralisada. Pisquei um olho e então o abaixei, ao mesmo tempo em que o segundo grito histérico do ano aconteceu. Infelizmente não saindo da boca daquela morena estúpida.

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